domingo, 15 de novembro de 2009

Rock´n´Roll de calcinha, por que não?

Escrever um trabalho final do curso de jornalismo sobre algo que gostamos não é tarefa fácil, especialmente quando existem aspectos polêmicos no assunto. Um grupo de quatro meninas da Faculdade Cásper Líbero – Fabiana Guena, Juliana Destro, Paula Bassi e Vera Kikutti – resolveu, com ousadia, tratar do rock de uma maneira diferente e bem própria. O resultado é um livro que coloca a posição da mulher nesse estilo musical de protesto, mas que ainda conserva um preconceito e uma exclusão velada por parte dos homens.

Por Pedro Zambarda

Trabalho de conclusão de curso do ano de 2007, Elas no rock: mulheres na cena independente paulista narra, de maneira direta e com detalhes a história de bandas diversas como Infect, As Mercedes e Dominatrix. Os estilos das roqueiras vão desde o hardcore, passando pelo feminismo engajado, até as musicistas mais comportadas no palco.

No entanto, o conceito de rock alternativo, independente, que as meninas buscaram no trabalho não trata apenas de bandas underground, desconhecidas do grande público, mas de grupos com produções alternativas, que não obedecem o mercado. Alguns dos entrevistados tiveram influências bem distintas, como o heavy metal e o punk rock. Um bom exemplo disso é o caso das irmãs Marina e Tatiana Pará, sendo esta última colaboradora técnica da revista Guitar Player, que são abordadas no trabalho com suas inspirações musicais, variando do progressivo pesado do Dream Theater até o metal melódico dos brasileiros do Angra.

Segundo Fabiana Guena, uma das co-autoras do TCC, “a maior dificuldade era o fato de estarmos tentando entrar em um grupo muito fechado que já estava cansado de ser mal interpretado, sem interesse em colaborar”. Ao mesmo tempo em que existe um preconceito contra as mulheres no rock, delegadas, no máximo, a condição de groupies ou esposas dos grandes astros, elas igualmente impõem bloqueios para divulgar seu trabalho, temendo serem taxadas de ‘mais esteticamente admiradas do que ouvidas’. Muitas das entrevistadas no trabalho preferiam fazer entrevistas via e-mail, ao passo que as meninas as procuraram pessoalmente o máximo que puderam.“Eu acho que quando a Fabi fala de "grupo fechado", ela se refere ao grupo das bandas feministas, que de fato foram as mais ressabiadas... mas eu acho que a parte mais interessante do trabalho de apuração foram as meninas do rock cristão” comentou Juliana Destro.

O resultado final foi um livro-reportagem dividido em quatro grandes capítulos, com várias subdivisões que abordam tanto a cronologia quanto as experiências que as bandas femininas enfrentaram. “É impossível esgotar um tema, ainda mais em um TCC, então sempre existe a possibilidade de surgir mais um sobre a mesma ‘tribo’, mas com enfoque diferente” confessou Fabiana. No trabalho, as estudantes procuraram ligar os preconceitos e os conflitos às reações do movimento musical, unindo feminismo, vegetarianismo, subgêneros do rock e inúmeros fatores que fazem parte da vida dessas mulheres. O material não trata apenas de levantar polêmicas, mas procura suas implicações e dilemas.

Além das questões polêmicas abordadas no trabalho, três das quatro autoras concordaram que a orientadora não foi adequada ao trabalho. “A orientação se baseava nas histórias que nós contávamos, mas ela não leu o trabalho, o que atrapalhou bastante. Muitas vezes ela questionava aspectos que ela não compreendia, porque não havia lido” disse Juliana Destro. Questionada sobre sua participação, a professora-orientadora Rosângela Petta se defendeu: “não dá pra ler 8 livros-reportagens por ano e dar aulas. Leio um capítulo e, a partir dele, oriento o restante do trabalho”. No entanto, Paula Bassi fez uma ressalva sobre a orientação que é considerável: “apesar de não ser muito presente no trabalho, ela oferecia um aconselhamento jornalístico e de estilo de escrita que foi útil em alguns momentos”.

Casos curiosos das bandas abordadas no livro, como as companheiras de banda Dominatrix, Mayra e Elisa, que assumiram sua homossexualidade em público durante a Verdurada (evento brasileiro de vegetarianos) de 1999, até o Kavla, grupo que considera a aparência 50% do espetáculo, podemos perceber no TCC um panorama sobre paradoxos que assolam a vida da mulher comum moderna, até mesmo no rock. Mais importante do que essa variedade de experiências testemunhadas, é saber que o esforço das estudantes, na verdade, reflete sua própria realidade, como garotas. “Resolvemos tratar de rock porque gostamos do estilo e falar de meninas porque a questão de gênero também sempre nos intrigou. Além disso, na minha opinião, no fundo sabíamos que o tema ia render boas histórias” alegou Paula, resumindo o esforço do grupo em trazer a tona cena paulistana na música.

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